O diagnóstico de autismo de um filho é um momento transformador na vida de qualquer mãe. Ele traz consigo um misto de emoções: medo, tristeza, alívio por ter respostas e, principalmente, a necessidade de ressignificar tanto os sonhos e expectativas, quanto a própria identidade.
Essa mãe enfrenta não apenas os desafios do cotidiano, mas também uma sociedade que a julga, silencia e deslegitima suas dores. Por tal motivo se torna imprescindível falar sobre o processo de luto vivido principalmente pelas mães que transitam nessa jornada. Essa mulher, que muitas vezes carrega sozinha o peso de se refazer.
Quando o diagnóstico chega, muitas mães experimentam um sentimento de perda: a perda do filho idealizado e do futuro que haviam planejado. Essa dor não é apenas sobre o que é, mas também sobre o que não será. Esse luto é legítimo e necessário, pois é a partir dele que surge a possibilidade de aceitar e enxergar o filho real em toda a sua singularidade.
Um luto que não é apenas pela criança idealizada, mas também pela maternidade que foi romantizada e não condiz com a realidade. A dor é legítima, mas é frequentemente minimizada ou ignorada. E essa mãe, que está em processo de renascimento, é muitas vezes obrigada a acelerar a aceitação, porque o mundo cobra dela resiliência e força imediata.
A maternidade por si só já é um é um chamado para renascer como mãe e como pessoa. Na maternidade atípica, outras partes são convidadas a se transformar, a busca por identificação com outras mães que não são aquelas que vemos com tanta frequência nas praças e parquinhos.
Ao falar de maternidade atípica, é impossível não fazer uma crítica ao quanto a sociedade invisibiliza o papel dessas mães. Espera-se que sejam super-heroínas, mas poucas vezes se oferece o suporte necessário para que elas possam simplesmente ser humanas. Quem ouve, sem julgamentos, o cansaço dessa mãe? Quem valida seu direito ao luto e ao tempo necessário para se reencontrar?
Com o tempo, as mães descobrem que o diagnóstico não define o amor pelo filho, nem limita as possibilidades de conexão. Pelo contrário, ele convida a uma nova forma de enxergar a vida: com mais paciência, presença e um olhar atento às pequenas conquistas.
Uma das maiores surpresas dessa jornada é perceber que o relacionamento com o filho autista pode ser profundo e transformador. Ele ensina sobre resiliência, empatia e a beleza de uma comunicação que vai além das palavras.
Isso traz a reflexão de que precisamos falar sobre isso porque é uma realidade cada vez mais presente. O luto quando bem acolhido e elaborado pode dar lugar a uma forma de amor ainda mais genuína, e as alegrias de se conectar com o filho em sua essência, possibilitando aprender a olhá-lo para além das limitações.
Para isso, escutar essa mãe sem julgamentos e com respeito para que ela se sinta aceita e validada é um passo importante para evolução de um mundo mais empático e acolhedor.
A jornada de cuidar de um filho autista é transformadora, mas é também cheia de desafios que só podem ser enfrentados com empatia e acolhimento. Escutar, respeitar e apoiar essas mulheres não é caridade, mas um dever coletivo em busca de uma sociedade mais justa e inclusiva.
É um desejo, que cada mãe encontre força para atravessar a dor e alegria para então celebrar as conquistas dessa relação.
A reflexão fica: o que você já fez para tornar a jornada de uma mãe mais leve? Afinal, quem cuida da mãe que cuida?
Com Carinho, Lais Barreto – Psicóloga e mãe atípica do Bento.
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