Quantas vezes você já ouviu ou até disse: “Essa criança precisa de limites!” ou “É falta de educação!”?
Na correria do dia a dia, é comum que comportamentos atípicos em crianças sejam rapidamente julgados como birra, teimosia ou desobediência. Mas e se, por trás de um grito, uma crise ou um isolamento repentino, houver uma criança pedindo socorro de forma não verbal?
Essa é uma das principais armadilhas da sociedade capacitista: olhar apenas para o comportamento, sem considerar o contexto e, principalmente, sem escutar o que aquela criança não consegue dizer com palavras.
A lógica da desregulação
Crianças neurodivergentes — como as que têm autismo, TDAH, dislexia ou outras condições do neurodesenvolvimento — muitas vezes têm dificuldades em regular emoções e sensações. Isso significa que sons, luzes, toques, cheiros ou mudanças de rotina podem desencadear reações intensas.
Essas reações não são manhas, e sim respostas reais a estímulos que seus corpos e mentes ainda não conseguem processar com equilíbrio. É como se o mundo ficasse alto demais, rápido demais, confuso demais — e a criança, sem recursos para se proteger, explode ou se retrai.
Criança não faz cena. Ela comunica.
Quando entendemos que o comportamento é comunicação, tudo muda.
Uma criança que não quer entrar na escola pode estar sofrendo com bullying.
Uma que grita no supermercado talvez esteja sofrendo uma sobrecarga sensorial.
A que morde o colega na creche pode estar tentando expressar frustração, medo ou ansiedade — e não tem outra forma de dizer.
O problema é que, em vez de escutar essas mensagens, a sociedade costuma aplicar punição, castigo ou julgamento. E isso só aumenta o sofrimento, reforça a exclusão e adia o acolhimento.
Dados que não podem ser ignorados
Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH atinge de 3% a 5% das crianças em idade escolar. Já o autismo afeta cerca de 1 em cada 36 crianças, de acordo com dados atualizados do CDC (EUA). No entanto, a maioria dessas crianças passa meses — ou anos — sem diagnóstico, justamente porque seus comportamentos são lidos como “problemas de educação”.
Enquanto isso, escolas não adaptam suas práticas, famílias se sentem culpadas e crianças crescem com autoestima ferida, acreditando que são erradas ou inadequadas.
O papel da escola, da família e da comunidade
- Escola: precisa oferecer formação continuada aos profissionais e incluir o tema da neurodiversidade no currículo. É na escola que muitas dessas crianças passarão a maior parte do tempo — e é lá que elas mais precisam de acolhimento e adaptação.
- Família: merece apoio, não julgamento. Educar uma criança neurodivergente exige uma rede que ofereça escuta, suporte emocional e orientações práticas.
- Sociedade: precisa parar de rotular e começar a escutar. Toda criança tem direito ao desenvolvimento pleno — e isso só é possível em ambientes que entendem e respeitam suas singularidades.
Criança não precisa ser consertada. Precisa ser compreendida.
O que chamam de “birra” pode ser um pedido silencioso de ajuda.
O que você vê como “desobediência” talvez seja apenas o reflexo de uma dor invisível.
E o que muitos julgam como “malcriação” pode ser apenas uma criança tentando sobreviver num mundo que ainda não aprendeu a recebê-la como ela é.
E você? Como tem olhado para as crianças ao seu redor?
Este artigo é um convite à escuta ativa, ao olhar mais compassivo e à quebra de julgamentos automáticos. Quando trocamos o olhar de reprovação por um olhar de curiosidade e acolhimento, criamos espaço para transformar.
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A transformação começa quando a gente escolhe parar de apontar e começa a acolher.
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